Considerada a obra mais importante do francês Gustave Flaubert, Madame Bovary não tem nada de um romance de suspense moderno. Trata-se da história banal de uma mulher mal casada que trai o marido, o arruína e acaba se suicidando, por ter se perdido, perseguindo quimeras inspiradas em romances “água com açúcar”. Considerada a obra mais importante do francês Gustave Flaubert, Madame Bovary não tem nada de um romance de suspense moderno. Trata-se da história banal de uma mulher mal casada que trai o marido, o arruína e acaba se suicidando, por ter se perdido, perseguindo quimeras inspiradas em romances “água com açúcar”.
A obra foi um escândalo à época por narrar a história de um adultério. Mas Flaubert faz uma perfeita descrição dos estados de espírito de Madame Bovary, chegada a sonhos com aventuras maravilhosas, tão precisa que foi forjado um termo para designar o mal que a consome: o bovarismo. Flaubert narra com maestria os anseios e medos de Madame Bovary pelo comportamento de mulher adúltera numa época que este comportamento era um pecado capital. Seleciono ora um trecho histriônico em que se deparam duas personagens que encontrava em transgressão e ambos dissimulam o susto do encontro inesperado nesta situação:
"Pouco a pouco, aqueles receios de Rodolphe tomaram posse dela. O amor tinha começado por embriagá-la, não a deixando pensar em mais nada. Mas agora, que se lhe havia tornado indispensável à vida, receava sofrer-lhe a mínima perda, ou até mesmo perturbá-lo. Quando voltava de casa dele, lançava em torno de si olhares inquietos, vigiava cada vulto que passasse torno de si olhares inquietos, vigiava cada vulto que passasse no horizonte e cada postigo da vila donde pudesse se avistada. Escutava os passos, os gritos, o ruído das charruas; parava mais pálida e mais trémula do que as folhas dos choupos balouçando por cima da sua cabeça.. < Certa manhã em que voltava para casa pareceu-lhe de repente distinguir o longo cano de uma carabina que dava a impressão de estar apontada para ela. Saía obliquamente do rebordo de um barril, meio escondido na vegetação, à beira de uma vala. Emma, quase a desmaiar de terror, continuou no entanto a avançar, quando do barril surgiu um homem, à semelhança daqueles diabos de mola que saltam repentinamente do fundo das caixinhas de surpresas. Tinha polainas afiveladas até aos joelhos, boné enfiado até aos olhos, os lábios a tremer e o nariz vermelho. Era Binet, o comandante dos bombeiros, à espera dos patos bravos.-
Devia ter avisado de longe! - exclamou ele.
- Quando se vê uma espingarda, deve-se sempre dar sinal. Com este arra-zoado, o tesoureiro procurava dissimular o medo que aca-bara de sentir; porque, existindo uma postura municipal que proibia a caça aos patos a não ser de barco, o senhor Binet, apesar do seu respeito pelas leis, encontrava-se em transgressão. De maneira que lhe parecia ver surgir, a cada instante, o guarda-florestal. Mas este sobressalto excitava-lhe o prazer e, sozinho dentro do seu barril, felicitava-se pela sorte e pela esperteza que tinha. Vendo Emma, pareceu aliviado de um grande peso e, entabulando imediatamente a conversação, disse:
- Não faz calor nenhum, está um frio que corta!
É verdade - balbuciou ela. - Venho de casa da ama onde está a minha filha. >
- Ah, perfeitamente. Perfeitamente. Pois eu, tal como me vê, estou aqui desde madrugada; mas o tempo está tão enevoado que, a não ser que me venham parar as penas mesmo à boca do cano.
- Passe muito bem, senhor Binet - interrompeu ela, voltando-lhe as costas.
- Às suas ordens - replicou ele secamente.
E voltou a enfiar-se no barril.
Emma arrependeu-se de ter deixado assim tão bruscamente o tesoureiro. Ele iria sem dúvida fazer conjecturas desfavoráveis. A história da ama era a pior desculpa, porque toda a gente sabia em Yonville que a pequenita dos Bovary há um ano já que voltara para casa dos pais. Além disso, não morava ninguém por ali perto e aquele caminho só dava passagem para a Huchette; portanto, Binet calculara donde ela vinha e não se calaria, daria à língua, era mais que certo! Emma ficou até à noite a torturar o espírito com todos os projetos de mentiras magináveis, vendo sempre na sua frente aquele caçador imbecil."
Madame Bovary, Gustavo Flauber, pags. 127/128
A obra foi um escândalo à época por narrar a história de um adultério. Mas Flaubert faz uma perfeita descrição dos estados de espírito de Madame Bovary, chegada a sonhos com aventuras maravilhosas, tão precisa que foi forjado um termo para designar o mal que a consome: o bovarismo. Flaubert narra com maestria os anseios e medos de Madame Bovary pelo comportamento de mulher adúltera numa época que este comportamento era um pecado capital. Seleciono ora um trecho histriônico em que se deparam duas personagens que encontrava em transgressão e ambos dissimulam o susto do encontro inesperado nesta situação:
"Pouco a pouco, aqueles receios de Rodolphe tomaram posse dela. O amor tinha começado por embriagá-la, não a deixando pensar em mais nada. Mas agora, que se lhe havia tornado indispensável à vida, receava sofrer-lhe a mínima perda, ou até mesmo perturbá-lo. Quando voltava de casa dele, lançava em torno de si olhares inquietos, vigiava cada vulto que passasse torno de si olhares inquietos, vigiava cada vulto que passasse no horizonte e cada postigo da vila donde pudesse se avistada. Escutava os passos, os gritos, o ruído das charruas; parava mais pálida e mais trémula do que as folhas dos choupos balouçando por cima da sua cabeça.. < Certa manhã em que voltava para casa pareceu-lhe de repente distinguir o longo cano de uma carabina que dava a impressão de estar apontada para ela. Saía obliquamente do rebordo de um barril, meio escondido na vegetação, à beira de uma vala. Emma, quase a desmaiar de terror, continuou no entanto a avançar, quando do barril surgiu um homem, à semelhança daqueles diabos de mola que saltam repentinamente do fundo das caixinhas de surpresas. Tinha polainas afiveladas até aos joelhos, boné enfiado até aos olhos, os lábios a tremer e o nariz vermelho. Era Binet, o comandante dos bombeiros, à espera dos patos bravos.-
Devia ter avisado de longe! - exclamou ele.
- Quando se vê uma espingarda, deve-se sempre dar sinal. Com este arra-zoado, o tesoureiro procurava dissimular o medo que aca-bara de sentir; porque, existindo uma postura municipal que proibia a caça aos patos a não ser de barco, o senhor Binet, apesar do seu respeito pelas leis, encontrava-se em transgressão. De maneira que lhe parecia ver surgir, a cada instante, o guarda-florestal. Mas este sobressalto excitava-lhe o prazer e, sozinho dentro do seu barril, felicitava-se pela sorte e pela esperteza que tinha. Vendo Emma, pareceu aliviado de um grande peso e, entabulando imediatamente a conversação, disse:
- Não faz calor nenhum, está um frio que corta!
É verdade - balbuciou ela. - Venho de casa da ama onde está a minha filha. >
- Ah, perfeitamente. Perfeitamente. Pois eu, tal como me vê, estou aqui desde madrugada; mas o tempo está tão enevoado que, a não ser que me venham parar as penas mesmo à boca do cano.
- Passe muito bem, senhor Binet - interrompeu ela, voltando-lhe as costas.
- Às suas ordens - replicou ele secamente.
E voltou a enfiar-se no barril.
Emma arrependeu-se de ter deixado assim tão bruscamente o tesoureiro. Ele iria sem dúvida fazer conjecturas desfavoráveis. A história da ama era a pior desculpa, porque toda a gente sabia em Yonville que a pequenita dos Bovary há um ano já que voltara para casa dos pais. Além disso, não morava ninguém por ali perto e aquele caminho só dava passagem para a Huchette; portanto, Binet calculara donde ela vinha e não se calaria, daria à língua, era mais que certo! Emma ficou até à noite a torturar o espírito com todos os projetos de mentiras magináveis, vendo sempre na sua frente aquele caçador imbecil."
Madame Bovary, Gustavo Flauber, pags. 127/128
Devia ter avisado de longe! - exclamou ele.
- Quando se vê uma espingarda, deve-se sempre dar sinal. Com este arra-zoado, o tesoureiro procurava dissimular o medo que aca-bara de sentir; porque, existindo uma postura municipal que proibia a caça aos patos a não ser de barco, o senhor Binet, apesar do seu respeito pelas leis, encontrava-se em transgressão. De maneira que lhe parecia ver surgir, a cada instante, o guarda-florestal. Mas este sobressalto excitava-lhe o prazer e, sozinho dentro do seu barril, felicitava-se pela sorte e pela esperteza que tinha. Vendo Emma, pareceu aliviado de um grande peso e, entabulando imediatamente a conversação, disse:
- Quando se vê uma espingarda, deve-se sempre dar sinal. Com este arra-zoado, o tesoureiro procurava dissimular o medo que aca-bara de sentir; porque, existindo uma postura municipal que proibia a caça aos patos a não ser de barco, o senhor Binet, apesar do seu respeito pelas leis, encontrava-se em transgressão. De maneira que lhe parecia ver surgir, a cada instante, o guarda-florestal. Mas este sobressalto excitava-lhe o prazer e, sozinho dentro do seu barril, felicitava-se pela sorte e pela esperteza que tinha. Vendo Emma, pareceu aliviado de um grande peso e, entabulando imediatamente a conversação, disse:
- Não faz calor nenhum, está um frio que corta!
É verdade - balbuciou ela. - Venho de casa da ama onde está a minha filha. >
- Ah, perfeitamente. Perfeitamente. Pois eu, tal como me vê, estou aqui desde madrugada; mas o tempo está tão enevoado que, a não ser que me venham parar as penas mesmo à boca do cano.
- Passe muito bem, senhor Binet - interrompeu ela, voltando-lhe as costas.
- Às suas ordens - replicou ele secamente.
E voltou a enfiar-se no barril.
Emma arrependeu-se de ter deixado assim tão bruscamente o tesoureiro. Ele iria sem dúvida fazer conjecturas desfavoráveis. A história da ama era a pior desculpa, porque toda a gente sabia em Yonville que a pequenita dos Bovary há um ano já que voltara para casa dos pais. Além disso, não morava ninguém por ali perto e aquele caminho só dava passagem para a Huchette; portanto, Binet calculara donde ela vinha e não se calaria, daria à língua, era mais que certo! Emma ficou até à noite a torturar o espírito com todos os projetos de mentiras magináveis, vendo sempre na sua frente aquele caçador imbecil."
Madame Bovary, Gustavo Flauber, pags. 127/128
Nenhum comentário:
Postar um comentário