quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Júlio Marques do Nascimento, por Pedro Lins de Oliveira

Júlio Marques trabalhou na construção do Açude Grande
Júlio Marques do Nascimento era de tra­dição humilde, porém honesta e trabalhadora. Nasceu em Cajazeiras, e era casado com Severina Marques Bezerra. Não es- tudou natural­mente por falta de recursos. Con- tou-me ele, que na in- fância chegou a ser en- graxate. Contou-me ainda que em 1915 trabalhou como operário, na construção do açude público de Cajazeiras. Esses dois registros muito dignificaram a sua história, como testemunho de sua simplicidade.

Naquele birô empoeirado ele fez seu gran­de patrimônio, comprando mais casas na cida­de, muita terra e gado, na vizinhança de Cajazeiras e também no Estado do Ceará. Pagava e ainda mantinha disponível no cofre, bastante dinheiro, para emprestar a juro, a pessoas que fossem conhecidas suas e de bom caráter. Tanto assim que não exigia avalistas.

O birô também lhe serviu para fazer polí­tica. Elegeu-se vereador pela primeira vez em 1928. Com a mudança do regime somente vol­tou a disputar outra vereança, elegendo-se su­cessivamente por duas ou três vezes, nas déca­das de cinquenta e sessenta, pela legenda do ve­lho PSD, do Senador Ruy Carneiro, de cujo Di­retório Municipal foi fundador. (Clique e veja algumas incorreções à narrativa)

Morreu em 1968, contando com 75 anos de idade, deixando os filhos: José Marques Be­zerra, Bel em Direito, casado com dona Eulina Marques, residente em Campina Grande; Per­petua Marques Lustosa, conhecida carinhosamente por Natércia, viúva de Assis Piano, apo­sentada, residente em Cajazeiras; Maria das Neves Marques, casada com Dilson Lino de Carvalho, bancário e residente em Recife; Ma­ria Marluce Marques, pedagoga, casada com o pecuarista Donato Rocha, residente em Caja­zeiras; Maria Mirtes Marques, cirurgia dentis­ta, casada com o magistrado Josué Custódio de Albuquerque, residente em Recife.

Vale a pena conhecer o patrimônio que ele conseguiu fazer, trabalhando sozinho, com­posto de várias propriedades rurais, inúmeras casas residenciais, em Cajazeiras, inclusive de­zenas de lotes de terrenos. Tudo isso, há vinte e sete anos transformado em espólio. Vejamos:


PROPRIEDADES

Município de Cajazeiras

 Saquinho e outras, com 2.400 tarefas, conforme registros de imóveis de números 1.057, 1.599, 1.612, 1.615, 3.599, e 13.779; Olho D’água e outras, medindo400 tarefas, registros números 4.123, 4.215, 4.437, 4.500 e 8.898; Santo Antô­nio, 23 tarefas, compra em 21.12.62; Lages, 80 ta­refas, reg. 2.283 e 2.842; Baixa Grande, 60 ta­refas, reg. 2.987; Bom Jardim, 500, reg. 1.614;

São João do Rio do Peixe

Boa Esperança, 1.400 tarefas, reg. 1.019, 11708 e 11.709; Afavaca, 372 tarefas, reg. 1.112 e e 11.246. Bom Lugar, 600 tarefas e reg. 247.

Santa Helena:

Canto do Feijão, 150 tarefas e reg. 630; Altos e Santa Helena, 500 tarefas e regs. 639 e 1.245.

Ipaumirim Ceará:

Cheirosa, com 1.435 tarefas e registro 3.473.

Barro Ceará:

Barro, Torquato e Espírito Santo, 660 tarefas e registo 2.161; Santo Antônio, 600 tarefas, reg. 3.212; Boa Vista, 450 tarefas e registro 5.577.

Aurora Ceará:
Soledade, com 140 tarefas e registro 128.
Iracema Ceará:
Volta, 385 tarefas, reg. 908; Gadelha, 435 tare­fas, reg. 920; Piranhas, 1.850 tarefas, regs. 318, 890 e 2.407.
Limoeiro Ceará:
Extrema, com 426 tarefas e registro 5.738. CASAS
(Residenciais e comerciais)
Rua Cel. Guimarães:
Números 15, 26, 27 e 44. (2 adquiridas por compras e 2 construídas);
Rua Justino Bezerra:
Números 201, 213, e 297 (03 adquiridas p/compras e 01 construída); Rua Dr.Coelho, números, 37, 40, 43, 46, 47, 51, 55, 59, 78, 83, 89 e 93. (12 construídas e 01 ad­quirida por compra);
Rua Eng. Carlos Pires de Sá:
Números 54, 60, 66, 75,210,307,329,333,337, 341, 345, 365, 369, 373, 377, 383, 347 e mais uma S/n. (18 construção);
Rua Ernesto Rolim:
Números 143, 149, 153, 157, 210, 216, 224, 227, 230, 231, 234, 238, 240, 244, 245, 248, 254, 258, 262 e mais duas S/n. (22 por construção);
Rua João Vieira Carneiro:
Números 88, 94,100, 107, 113, 119, 123, 129, 145 e 185 (10 cons­trução);
Rua Padre José Tomaz:
Números 35, 38, 42, 175, 179, 214, 238, 360, 416 e 424 (08 compra e 02 construção);
Rua Tiburtino Cartaxo de Sá:
Números 22, 26, 35, 39, 40, 44, 48, 52, 56, 60, 87, 90, 91, 95, 96, 100 e 103 (17 construção);
Rua 21 de Abril:
Números 02, 10, 22, 35, 37, 38, 44, 60, 64, 66, 71, 78, 86 e mais 03 S/n (13 ad­quiridas por compra e 03 por constração);
Rua Fausto Rolim:
Números 123, 129, 133 e uma S/n (04 construção);
Rua Anísio Rolim:
S/n (01 construção);
Rua Juvêncio Carneiro:
297 (01 construção);
Praça D. João da Mata:
44 (01 construção);
Rua Duque de Caxias:
S/n (01 construção);
Rua Epifânio Sobreira:
S/n (01 construção);
Rua Felismino Coelho:
S/n (01 construção;
Avenida Francisco Matias Rolim:
377 (01 construção);
Rua Henrique Coelho:
S/n (03 construção);
Rua Joaquim de Sousa:
40 (01 construção);
Rua Antônio Holanda:
S/n (01 compra);
Rua Desembargador Boto:
251 (01 compra);
Rua Henrique Coelho:
S/n (03 construção;
Rua Higino Tavares:
S/n (01 construção);
Rua João Alves:
80 e mais uma S/n (02 cons­trução);
Pç. João Pereira:
12, 72 e 98 (03 compra);
Pç. Padre Rolim:
136 (01 compra);
Pç. JS. S. Fátima:
60 e 68 (02 compra);
Rua Mariana Abreu:
números, 25, 31, 39,45, 51 e 102 (05 compra);
Rua Rafael Holanda:
S/n (02 construção);
Rua Raimundo Rolim:
S/n (04 construção); Trav. Sta. Terezinha, 10, 16, 20 (03 construção);
Rua Tenente Sabino:
38, 95, 101, 111 e mais uma S/n (02 compra e 03 construção); e final­mente, mais de uma dezena de lotes, adquiridos para construir.
No resumo de tudo, apuramos que as pro­priedades somam cerca de dez mil tarefas de terras, agricultáveis e próprias para criar, afo­ra o gado (e muito), 173 prédios residenciais e comerciais, dos quais 39 foram adquiridos por compras e 134 erguidos por ele, o que significa dizer que meu velho amigo Júlio Marques, pelo que construiu e pelo que fez por Cajazeiras me­rece abrir a sequência desses meus homena­geados.
Informações colhidas no Cartório, onde corre o inventário, dão conta que todo esse sóli­do patrimônio (repetindo o que já disse) há vin­te e sete anos transformado em espólio, encontra-se com sua partilha emperrada, esse tempo todo, por culpa exclusiva do herdeiro mais ve­lho, doutor em direito, que nasceu com os olhos grandes, pelo visto enxergando pouco, localiza­dos em cavidades hemisféricas de uma cabeça oca, que só pensa nele, mesmo em detrimento dos próprios irmãos. Tanto assim que oito ad­vogados foram constituídos por ele, no decor­rer desse tempo, sem necessidade, cujo retarda­mento da partilha resulta em prejuízo no usu­fruto para todos. Enquanto isso o gado, al­guns prédios e parte das terras já foram ven­didos, por ordem do Juiz, para fazer face ao pagamento de honorários e custas, sem, no en­tanto, resolver nada. É uma pena! Bem que o doutor devia ser mais sensato e mais inteligen­te! Bem que ele podia se aprofundar mais um pouquinho nos livros de Direito! É lendo que se aprende! Quem sabe, ele encontraria a dou­trina que diz: a justiça pode ser cega, mas o di­reito existe para todos!...