Júlio Marques trabalhou na construção do Açude Grande |
Júlio Marques do Nascimento era de tradição humilde, porém honesta e trabalhadora. Nasceu em Cajazeiras, e era casado com
Severina Marques Bezerra. Não es- tudou naturalmente por falta de recursos.
Con- tou-me ele, que na in- fância chegou a ser en- graxate. Contou-me ainda que em
1915 trabalhou como operário, na construção do açude público de Cajazeiras.
Esses dois registros muito dignificaram a sua história, como testemunho de sua
simplicidade.
Naquele birô empoeirado ele fez seu grande
patrimônio, comprando mais
casas na cidade, muita terra e gado, na
vizinhança de Cajazeiras e também no Estado do Ceará. Pagava e ainda mantinha
disponível no cofre, bastante dinheiro,
para emprestar a juro, a
pessoas que fossem conhecidas suas e de bom caráter. Tanto assim que não exigia
avalistas.
O birô também lhe serviu para fazer política.
Elegeu-se vereador pela primeira vez em 1928. Com a mudança do regime somente
voltou a disputar outra vereança, elegendo-se
sucessivamente por duas ou três vezes, nas décadas de cinquenta e sessenta, pela legenda do velho PSD, do Senador Ruy Carneiro, de cujo Diretório Municipal foi
fundador. (Clique e veja algumas incorreções à narrativa)
Morreu em 1968, contando com 75 anos de idade,
deixando os filhos: José Marques Bezerra, Bel em Direito, casado com dona
Eulina Marques, residente em Campina Grande; Perpetua Marques Lustosa, conhecida carinhosamente por
Natércia, viúva de Assis Piano, aposentada, residente em Cajazeiras; Maria das
Neves Marques, casada com Dilson Lino de Carvalho, bancário e residente em
Recife; Maria Marluce Marques, pedagoga, casada com o pecuarista Donato Rocha,
residente em Cajazeiras; Maria Mirtes Marques, cirurgia dentista, casada com
o magistrado Josué Custódio de Albuquerque, residente em Recife.
Vale a pena conhecer o patrimônio que ele
conseguiu fazer, trabalhando sozinho, composto de várias propriedades rurais,
inúmeras casas residenciais, em Cajazeiras, inclusive dezenas de lotes de
terrenos. Tudo isso, há vinte e sete anos transformado em espólio. Vejamos:
PROPRIEDADES
Município de
Cajazeiras
Saquinho e
outras, com 2.400 tarefas, conforme registros de imóveis de números 1.057,
1.599, 1.612, 1.615, 3.599, e 13.779; Olho D’água e outras, medindo400 tarefas,
registros números 4.123, 4.215, 4.437, 4.500 e 8.898; Santo Antônio, 23
tarefas, compra em 21.12.62; Lages, 80 tarefas, reg. 2.283 e 2.842; Baixa
Grande, 60 tarefas, reg. 2.987; Bom Jardim, 500, reg. 1.614;
São João do
Rio do Peixe
Boa Esperança, 1.400 tarefas, reg. 1.019, 11708 e
11.709; Afavaca, 372 tarefas, reg. 1.112 e e 11.246. Bom Lugar, 600 tarefas e
reg. 247.
Santa Helena:
Canto do Feijão, 150 tarefas e reg. 630; Altos e Santa Helena, 500 tarefas e
regs. 639 e 1.245.
Ipaumirim Ceará:
Cheirosa, com 1.435 tarefas e registro 3.473.
Barro Ceará:
Barro, Torquato e Espírito Santo, 660 tarefas e
registo 2.161; Santo Antônio, 600 tarefas, reg. 3.212; Boa Vista, 450 tarefas e
registro 5.577.
Aurora Ceará:
Soledade, com 140 tarefas e registro 128.
Iracema Ceará:
Volta, 385 tarefas, reg. 908; Gadelha, 435
tarefas, reg. 920; Piranhas, 1.850 tarefas, regs. 318, 890 e
2.407.
Limoeiro Ceará:
Extrema, com
426 tarefas e registro 5.738. CASAS
(Residenciais
e comerciais)
Rua Cel.
Guimarães:
Números 15, 26, 27 e 44. (2 adquiridas por compras
e 2 construídas);
Rua Justino
Bezerra:
Números 201,
213, e 297 (03 adquiridas p/compras e 01 construída);
Rua Dr.Coelho, números, 37, 40, 43, 46, 47, 51, 55, 59, 78, 83, 89 e 93. (12
construídas e 01 adquirida por compra);
Rua Eng.
Carlos Pires de Sá:
Números 54, 60, 66, 75,210,307,329,333,337, 341,
345, 365, 369, 373, 377, 383, 347 e mais uma S/n. (18 construção);
Rua Ernesto
Rolim:
Números 143, 149, 153, 157, 210, 216, 224, 227,
230, 231, 234, 238, 240, 244, 245, 248, 254, 258, 262 e mais duas S/n. (22 por construção);
Rua João
Vieira Carneiro:
Números 88, 94,100, 107, 113, 119, 123, 129, 145 e
185 (10 construção);
Rua Padre José
Tomaz:
Números 35, 38, 42, 175, 179, 214, 238, 360, 416 e
424 (08 compra e 02 construção);
Rua Tiburtino
Cartaxo de Sá:
Números 22, 26, 35, 39, 40, 44, 48, 52, 56, 60,
87, 90, 91, 95, 96, 100 e 103 (17 construção);
Rua 21 de
Abril:
Números 02, 10, 22, 35, 37, 38, 44, 60, 64, 66,
71, 78, 86 e mais 03 S/n (13 adquiridas por compra e 03 por constração);
Rua Fausto
Rolim:
Números 123, 129, 133 e uma S/n (04 construção);
Rua Anísio
Rolim:
S/n (01 construção);
Rua Juvêncio
Carneiro:
297 (01 construção);
Praça D. João
da Mata:
44 (01 construção);
Rua Duque de
Caxias:
S/n (01 construção);
Rua Epifânio
Sobreira:
S/n (01 construção);
Rua Felismino
Coelho:
S/n (01 construção;
Avenida Francisco
Matias Rolim:
377 (01 construção);
Rua Henrique
Coelho:
S/n (03 construção);
Rua Joaquim de
Sousa:
40 (01 construção);
Rua Antônio
Holanda:
S/n (01 compra);
Rua Desembargador
Boto:
251 (01 compra);
Rua Henrique
Coelho:
S/n (03 construção;
Rua Higino
Tavares:
S/n (01 construção);
Rua João Alves:
80 e mais uma S/n (02 construção);
Pç. João
Pereira:
12, 72 e 98 (03 compra);
Pç. Padre
Rolim:
136 (01 compra);
Pç. JS. S.
Fátima:
60 e 68 (02 compra);
Rua Mariana
Abreu:
números, 25, 31, 39,45, 51 e 102 (05 compra);
Rua Rafael
Holanda:
S/n (02 construção);
Rua Raimundo
Rolim:
S/n (04 construção); Trav. Sta. Terezinha, 10, 16,
20 (03 construção);
Rua Tenente
Sabino:
38, 95, 101, 111 e mais uma S/n (02 compra e 03
construção); e finalmente, mais de uma dezena de lotes, adquiridos para
construir.
No resumo de tudo, apuramos que as propriedades
somam cerca de dez mil tarefas de terras, agricultáveis e próprias para criar,
afora o gado (e muito), 173 prédios residenciais e comerciais, dos quais 39
foram adquiridos por compras e 134 erguidos por ele, o que significa dizer que
meu velho amigo Júlio Marques, pelo que construiu e pelo que fez por Cajazeiras
merece abrir a sequência desses meus homenageados.
Informações
colhidas no Cartório, onde corre o inventário, dão conta que todo
esse sólido patrimônio (repetindo o que já disse) há vinte e sete anos transformado
em espólio, encontra-se com sua partilha emperrada, esse tempo
todo, por culpa exclusiva do herdeiro mais velho, doutor em
direito, que nasceu com os olhos grandes, pelo visto enxergando
pouco, localizados em cavidades hemisféricas de uma cabeça oca, que
só pensa nele, mesmo em detrimento dos próprios irmãos. Tanto assim que
oito advogados foram constituídos por ele, no decorrer desse tempo, sem
necessidade, cujo retardamento da partilha resulta em prejuízo no usufruto
para todos. Enquanto isso o gado, alguns prédios e parte das terras já
foram vendidos, por ordem do Juiz, para fazer face ao pagamento de
honorários e custas, sem, no entanto, resolver nada. É uma pena! Bem que
o doutor devia ser mais sensato e mais inteligente! Bem que ele podia se
aprofundar mais um pouquinho nos livros de Direito! É lendo que se aprende!
Quem sabe, ele encontraria a doutrina que diz: a justiça pode ser cega, mas o
direito existe para todos!...