“Conta-se sobre dois homens, um que cobiçava e outro que invejava…
O que cobiçava vivia a reclamar: ‘veja quão amarga é a obra do Criador. Faz com que os merecedores não obtenham seu mérito: por que sou pobre, enquanto aquele homem, meu inimigo e vizinho é rico?’
O que invejava implorava: ‘Eterno, não escutes suas palavras e não lhe permitas tornar-se um príncipe entre os seus. Deixa-me morrer se ele enriquecer…’
Certa vez um anjo lhes apareceu no deserto e os chamou, dizendo: ‘Eis que ouviram-se seus lamentos e preces. Eu vim realizar seus pedidos e isto é o que lhes ofereço: Vocês poderão pedir o que seus corações desejarem, que lhes será imediatamente concedido. O dobro deste pedido, no entanto, será dado ao outro. Este é nosso acordo e não será violado.’
Aquele que cobiçava, sonhando com um pedido duplo, disse: ‘você pede primeiro’.
O invejoso reagiu: ‘Como posso pedir algo, se ao final você emergirá mais forte ou rico do que eu?’
Os dois começaram a brigar até que o invejoso exclamou:
‘Deus, faz a teu servo o reverso de tua vontade! Cega-me de um de meus olhos e meu inimigo, portanto, dos dois. Anestesia uma de minhas mãos e duplica a medida para meu inimigo’.
Assim foi feito e os dois, cegos e inválidos, permaneceram pateticamente como exemplo de vexame e desgraça.” (…)
(Fonte: Nilton Bonder, A Cabala da Inveja).