João Rodrigues Alves - O
calunga de caminhão. Nasceu em Serra Negra - RN, no dia 5 de julho de
1912 e registrou-se alguns anos depois na cidade de Areia - PB. Na certidão de
nascimento consta apenas o nome de sua mãe dona Tereza da Conceição. Aliás, ele
sempre dizia, sem constrangimento, ser filho de lavadeira e de pai
ignorado. Orgulhava-se de não ter frequentado escolas e de ter começado
a trabalhar aos 12 anos de idade, como calunga de caminhão. Ao atingir a maior
idade, adquiriu carteira de habilitação de motorista profissional. Daí
por diante avançou na vida.
Conheci-o em 1934, trabalhando
em um caminhão (caçamba de madeira) de sua propriedade, transportando
material (pedra e barro) para a construção do açude de Boqueirão de Piranhas,
onde morava com a esposa (recém- casados) na casa de número 09, da rua
principal, (a mesma onde nasceu o senador Raimundo Lira). Naquela
época - 1934, eu tinha 11 anos e já trabalhava ajudando o mano Toinho (três
anos mais velho) a vender leite da vacaria de meu pai. Dessa fase, dois
episódios ficaram guardados na minha lembrança. O afago que Dona Mocinha
(esposa de João Rodrigues) dispensava a seus leiteiros e uma pedra em formato
de pepino, medindo uns 20 centímetros e pesando cerca de um quilo, de cor
esverdeada e bem polida, usada para escorar a porta da frente. Atraído pela sua
beleza natural', não hesitei em perguntar a uma garota da casa, que aparentava
ter a minha idade e que ajudava a dona Mocinha nos afazeres domésticos, que
pedra era aquela tão bonita! Respondeu-me que era um corisco e eu acreditei
Com o fim da construção do
açude, em setembro de 1937, João Rodrigues passou a residir em Cajazeiras,
levando suas economias, fruto de seu trabalho, suficiente para comprar um
caminhão novo, com boleia larga, confeccionada em madeira, adaptada para
carregar passageiros e passou a transportar, principalmente, algodão em pluma
dos maquinismos de Galdino Pires, em Cajazeiras e Antônio Gomes Barbosa, de São
José de Piranhas, para Campina Grande, sempre com a boleia lotada de
comerciantes que aproveitavam a viagem para fazer suas compras e transportá-las
aproveitando a volta do mesmo caminhão. Mas ele não só servia transportando a
mercadoria como também fazia o papel de cicerone para muitos desses comerciantes,
e mais precisamente àqueles que viajavam pela primeira vez, e ainda servia de avalista, no ato de eventual compra feita a
prazo.
Quando cheguei a Cajazeiras, no
ano de 1958, como fiscal de rendas, João Rodrigues já era considerado como um
dos principais empresários da cidade, e quiçá, da região. Possuía uma frota
composta de vários caminhões e alguns ônibus, servindo para transportar cargas,
de modo geral, inclusive combustíveis e também passageiros para Campina Grande.
O ônibus que fazia essa linha era conhecido como “a sopa de Seu João".
Apesar de ter tido uma infância difícil, João Rodrigues tornou-se um empresário
próspero. Além dos bens acima citados, era proprietário de uma grande casa de
peças e pneus, ainda tinha instalado na principal rua, um posto com bombas de
gasolina e óleo.
Foi o pioneiro da linha de
ônibus com itinerário registrado (na década de cinquenta) de Cajazeiras -
Campina Grande, denominada de Viação Andorinha, estendendo-se mais tarde até
João Pessoa e Recife, e na proporção que desenvolvia seu plano de expansão ia
também interligando Cajazeiras com novas linhas, a várias outras cidades
paraibanas, inclusive adquiriu e incorporou ás empresas já existentes, outra
empresa, denominada de Viação Princesa do Seridó, com sua expressiva frota,
cuja linha tinha o percurso de Natal (RN) via Caicó-Cajazeiras. Esta passou a
ser administrada pelo filho Zezinho. Aliás, Zezinho e Paulo, ainda
adolescentes, foram os únicos filhos integrados como sócios na firma do pai e
com ele trabalharam até a sua transferência para a Eternidade, enquanto as
filhas estudavam nos melhores colégios do Estado, desfrutando o máximo de
conforto que um pai rico podia oferecer.
Aqui abro espaço para descrever
um pouco seu perfil, inclusive fazer algumas considerações sobre sua pessoa e
seu comportamento:
Ele era uma pessoa
extrovertida; orgulhava-se de tudo que fez e de tudo que foi na vida; não
gostava de bajular e nem de ser bajulado. Também não gostava de etiqueta nem de
protocolo; não tolerava exibicionismo. Tanto assim que quando alguém o
procurava, mesmo para tratar de assuntos comercias, trajando terno e gravata,
ele perguntava em tom de ironia, se era vendedor de livros ou pastor
protestante, e para surpresa do excêntrico visitante justificava-se dizendo que
não sabia ler e nem entendia de religião. Era avesso ao diálogo. Suas decisões
eram tomadas de rápido improviso. Detestava vagabundagem. Para ele todo mundo
era obrigado a trabalhar para ter condições de garantir, no mínimo, sua própria
sobrevivência. pensava assim, talvez, pela sua condição de homem pouco letrado
- todavia de visão empreendedora.
Em nenhum momento ele se
distanciou de seus negócios - fosse trabalhando, viajando ou se divertindo.
Sabia como ninguém aproveitar todos os momentos que a vida lhe oferecia. Era
questão dele, se fazer presente a todas as solenidades - fosse cívica,
religiosa, social ou política. Nas quermesses, por exemplo, ele não só
comparecia, como animava os leilões, extrapolando os preços dos brindes
leiloados, para atormentar os que tinham pena de gastar. Sua contribuição, de
modo geral, era espontânea e significativa.
Cajazeiras conhecida como
cidade hospitaleira acolhia a maior parte dos viajantes que fazia a praça da
redondeza, e o principal motivo era o papo de Seu João. Fosse nas calçadas, nos
bares, nos restaurantes, nas boates, nos clubes sociais ou mesmo em seus
estabelecimentos comerciais ele se apresentava como um autêntico recepcionista,
e ainda fazia o papel de guia turístico da cidade.
Para finalizar, gostaria de
dizer que a Bíblia nos ensina que na face da terra ninguém se perpetua e nós
sabemos que tudo é passageiro. E para quem está vivo o encontro com a morte
pode acontecer a qualquer momento. Cedo, João Rodrigues foi arrebatado do
convívio da família e de Cajazeiras, quando completava 65 anos de idade, no
auge de seus negócios, inclusive era o diretor comercial da Concessionária
Volkswagen, lá mesmo em Cajazeiras, da qual era sócio com 50% do capital
integralizado e, ainda deixando para a família um invejável patrimônio e
exercia o mandato de vice-prefeito constitucional da terra que ensinou a
Paraíba a ler. Era casado com Dona Maria Mendes Rodrigues, cuja prole é
composta dos seguintes filhos: José (Zezinho), Paulo, Roberto, Tereza, Elisete,
Vanda, Maria, Francisca e Zélia.
Excerto da obra "Retalhos de Vida" de Pedro Lins de Oliveira, pags. 109-114
CAPÍTULO - X